A PÁSCOA E SUAS CONSEQUÊNCIAS

27/03/2016 23:37

 

A Páscoa está acabando. Nas últimas horas desse domingo, os comércios aumentaram o ritmo das vendas, baixaram preços, criaram mil promoções na tentativa de vender mais bombons e ovos de Páscoa. Muitas famílias se reuniram para conversar, comer e compartilhar nesse dia, e muitas igrejas realizaram cantatas ou musicais inspirados nesse momento.

Mais que um feriado religioso, a Páscoa constitui uma das afirmações centrais da fé cristã. Seu cerne é a ressurreição de Jesus que gera esperança para a vida. Nesse período da liturgia cristã, costuma-se voltar os olhos aos textos que retratam a paixão de Jesus dando maior ênfase à sua morte na cruz e sua ressurreição, isto é, à sua entrega por amor do mundo. Porém, deveríamos sempre ressaltar um fato: esta entrega da qual fala a Páscoa não se limita à morte de Jesus, mas abrange toda sua vida. Jesus se entrega em serviço e em amor desde o início de seu ministério. A proclamação do reino de Deus, as curas, as parábolas, os milagres, o compartilhar da mesa, tudo em Jesus faz referência clara e direta ao amor do Pai que sempre nos aguarda para a festa.

A Páscoa está acabando. Mas que consequências ela traz para a vida? Quais as implicações essa festa da ressurreição nos apresenta? Em que ela nos responsabiliza? Dentre tantas coisas, indico uma que, para mim, é essencial à nossa relação com Deus: a Páscoa nos revela que Deus é, de fato, Emanuel, Deus conosco, presente em todos os momentos de nossa vida.

Deus está presente nas nossas sextas-feiras de cruz, de dor, de derrota, de desânimo. Está presente mesmo quando gritamos “Deus meu, por que me abandonaste?”, como fez seu Filho na agonia da cruz. Deus está presente mesmo quando, cansados, perdemos o ânimo para viver, temos sede e não nos sentimos saciados, sofremos zombaria e perseguição e nos perguntamos se vale a pena continuar a caminhada.

Deus também está presente em nossos domingos de ressurreição, quando nos reencontramos com nosso Mestre, vivo, que nos transmite sua paz. Deus está presente nos momentos em que, movidos pelo seu Espírito, somos chamados a testemunhar, até o martírio se for preciso, do seu amor de Pai. Deus está presente em nossa comunhão com nossos irmãos, quando compartilhamos a mesa do pão e do vinho em santa alegria.

E Deus está presente nesse hiato existente entre esses dias. Entre a sexta-feira da cruz (símbolo da maldade e injustiça humanas e da opressão de um Império que, em nome de sua PAX condenava à morte muita gente), e o domingo da ressurreição (do túmulo vazio, dos discípulos num misto de confusão e alegria por rever Jesus, vivo diante deles) nós nos encontramos com um Deus-Emanuel.

Somente um Deus-Emanuel torna-se fonte de esperança para a vida e sentido para a Páscoa. Sendo assim, é a alegria da Páscoa que preenche a vida de esperança, mesmo em meio ao sofrimento e à dor. É a ressurreição de Jesus que fornece esperança à história humana. A cruz representa assim, paradoxalmente, tanto a experiência da dor e da sensação de abandono (“Deus meu, por que me abandonaste?”) como a segurança da fé e da esperança (“Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito”). E a ressurreição assegura tal esperança na vida. É essa certeza que o Ressuscitado suscita à igreja que mantém o ânimo na caminhada, mesmo em meio às descrenças, crises e dores.

Que a Páscoa possa trazer a nós essas consequências.

 

Marcio Simão de Vasconcellos