A PRIMEIRA CEIA DO REINO DE DEUS

30/03/2013 00:01

 

Texto baseado em Lucas 22.14-18

 

“Tenho desejado ansiosamente comer convosco essa Páscoa, antes do meu sofrimento.”

 

Estas são palavras que o evangelista coloca nos lábios de Jesus. Demonstram seu desejo de partilhar aquele momento com seus discípulos(as)-amigos(as).

 

Esta prática da ceia não é algo novo na vida de Jesus. Repartir a mesa era o que Jesus gostava de fazer, e fazia-o bem. A tal ponto que tornava-se verdadeiro escândalo na concepção de muita gente, especialmente a elite religiosa judaica. Isso porque comer com alguém na sociedade da época de Jesus era coisa séria! Significava afirmar aliança de vida, relacionamento pessoal com o outro. E uma das críticas que fizeram a Jesus foi justamente essa: “esse aí é comilão, beberrão e amigo de pecadores”. Crítica, aliás, no caso de Jesus, inteiramente correta: Jesus era (e é!) amigo de pecadores, amigo de gente que não é mais considerado gente pelos outros. Jesus é amigo do pecador.

 

Por isso, a mesa de Jesus está sempre aberta. A todos e a todas! Não existe acepção nem recusa. Basta puxar uma cadeira e sentar-se à mesa para desfrutar do banquete do Pai. Basta aceitar o convite de Jesus: “tenho desejado ansiosamente comer essa Páscoa com vocês!”. Venha! A mesa também é sua!

 

Mas esta ceia de Lucas não é como as demais. Nela, Jesus reafirma seu desejo de ter comunhão conosco, mas vai até as últimas conseqüências. Porque nela há a sombra do sofrimento de Jesus. O doce do vinho é ofuscado pela dor da cruz. O prazer da companhia dos discípulos-amigos e discípulas-amigas à mesa é acompanhado da expectativa desesperadora da solidão do Getsêmani. Pois quem disse que o dia do bem também não pode ser dia onde o mal se faz presente? Quem disse que as lágrimas e os sorrisos são inimigos irreconciliáveis? Que noite e dia não fazem parte da vida que é vivida integralmente diante de Deus?

 

Jesus desejava ardentemente ter aquele último momento de comunhão com seus discípulos. Sabia como seriam as suas próximas horas. Já antevia o sofrimento, as chicotadas, a dor, o desprezo, o sentir-se sozinho. Precisava, portanto, de companhia humana. Quão diferente somos de Jesus! Muitas vezes, nos momentos que mais precisamos, nos fechamos em nós mesmos, incapazes de perceber a presença do outro compartilhando do pão em nossa mesa. Somos solitários, mas por escolha própria.

 

Jesus, não. Ele se aproxima das pessoas porque ele ama a vida. Jesus não veio como um suicida louco para morrer. Ele não queria a cruz! Ou você acha que é a toa que ele ora “Pai, afasta de mim este cálice”? Jesus ama a vida! Ama estar com gente, conversar, rir, chorar junto. Basta ler os evangelhos para perceber isso. Jesus é aquele que exulta no Espírito por que o Pai, Senhor do céu e da terra, revelou as coisas do reino aos pequeninos. Jesus é aquele que enxergava no passarinho voando ou na semente plantada a beleza do Criador como fonte de ensino para o cotidiano.

 

Mas nessa ceia, Jesus deixa claro o que está ocorrendo. Ao dar o pão, repartindo-o entre os presentes, ele diz: “Isto é o meu corpo”, e ao fazer isso reafirma sua intenção de entregar toda sua vida por seus amigos e amigas. O bom pastor é aquele que dá sua vida, afinal. Por isso, não é somente a morte de Jesus que tem significado para nós. Não! Não só o seu sangue é redentor, mas toda a vida de Jesus é salvífica. A morte de Jesus, sem ter diante dos olhos a sua vida, sua maneira de ser, de viver e de falar com Deus, fica sem sentido. Jesus não veio para morrer! Ele veio para viver, vida íntegra diante do Pai a quem amou tanto que foi fiel até a morte, e morte de cruz. Pois se a vida de Jesus se resumisse à sua morte, então por que viver? Sigamos o exemplo do Mestre e morramos agora! Mas não! Jesus quer que vivamos a vida como Ele a viveu, vida inteira diante do Pai, vida que se sente e se sabe amada e cuidada porque Deus tem cuidado de passarinhos. O que dizer de nós?

 

Mas esta ceia também é afirmação da esperança! Porque Jesus nunca mais beberá ou comerá dela até que venha o reino de Deus. E este reino já veio com Jesus! Todas as vezes que participamos desse banquete, reafirmamos sua vida, sua morte e sua ressurreição.

 

Por isso, Páscoa fala de esperança.

 

Esperança que nos ajuda a passar pela sexta-feira e pelo sábado de medo e angústia, pois o domingo é o dia da ressurreição! Esperança que é sustentada pelas palavras de Jesus: “No mundo, tereis aflições. Mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo!”.

 

Então, nesse domingo, em meio às delícias dos ovos de chocolate, com seus formatos, sabores, aromas e recheios variados, tenha em mente que Páscoa, acima de tudo, fala de um Deus que ama você, que deseja promover sua libertação e devolver sua esperança perdida.

 

Que Jesus, que é a nossa Páscoa, abençoe você ricamente!

 

Marcio Simão de Vasconcellos

29/03/2013

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