MARCHA PARA GEZUIS

09/07/2022 17:58
Hoje ocorreu a Marcha para Gezuis.
Você conhece esse Gezuis. Certamente ouviu falar dele ou assistiu os sinais de sua presença evidenciados em certos líderes religiosos no cenário evangélico brasileiro.
Não, esse Gezuis não tem nada a ver com o Jesus dos Evangelhos que acolhia os mais pobres, que demonstrava compaixão e misericórdia, que não apedrejava mulheres nem expulsava publicanos de seu reino.
Esse Gezuis – esse dessa Marcha aí – é outro. Bem diferente do Nazareno.
O Gezuis da Marcha é o que escolhe estar entre os poderosos, bajulando-os em troca de poder, status e fama; que faz conluios dos quais até o diabo duvida e fica surpreso; que gosta das ricas vestes sacerdotais, dos primeiros lugares nos espaços religiosos e públicos.
É o Gezuis que decide se armar contra os outros e faz da violência seu único discurso contra tudo e todos. É o Gezuis que escolhe perseguir as periferias, que mata mulheres, que legisla contra os mais necessitados, que persegue pessoas homoafetivas em nome da preservação da doutrina a todo custo. Doutrina, aliás, lida sem qualquer vestígio de amor e misericórdia.
É o Gezuis que olha para os miseráveis da vida – os órfãos, as viúvas, os pobres e estrangeiros – não para acolhê-los, mas para encontrar novos e mais perversos meios de espoliá-los, retirando deles o que resta da dignidade.
É o Gezuis que gosta de fama, que quer ser rei sobre os homens, que decide transformar pedras em pães para atender a seus desejos egoístas. É o Gezuis que se lança do Templo porque faz dele seu palanque de poder. É o Gezuis que aceita a glória dos reinos, com seu deus Mamom, em troca de adoração a Satanás. É o Gezuis que quer ser Messias a todo custo.
É o Gezuis dessa Marcha aí.
Enquanto marcham ao som das blasfêmias proferidas por esse Gezuis, muitos ignoram onde se encontra o Jesus de Nazaré.
Mas, se você ler os evangelhos, vai descobrir onde Jesus se encontra.
Jesus se encontra ali ao lado da viúva de Naim, ressuscitando seu único filho. Ali, tocando em cadáveres como o da filha de Jairo. Ali, não dando ouvidos à acusação farisaica a fim de dar a uma mulher a chance de um recomeço na vida. Ali, recebendo crianças e afirmando que delas é o reino dos céus. Ali, denunciando a hipocrisia religiosa dos que são incapazes de enxergar as viúvas dando todo seu sustento para enriquecer uma instituição religiosa que, há muito, perdeu sua razão de ser. Ali, junto ao homem caído na estrada que descia de Jerusalém para Jericó. Ali, dizendo com todas as letras que são os pacificadores que serão chamados filhos de Deus. Ali, lembrando que somente quem age com misericórdia na vida, alcançará misericórdia divina. Ali, junto ao tanque de Betesda, ao lado de gente excluída da vida em sociedade. Ali, em lugares ermos, literalmente fugindo da tentativa de fazê-lo rei. Ali, curando gente em dia santo e rompendo intencionalmente com a guarda da Lei. Ali, explicando da forma mais clara possível que quem dá pão a quem tem fome, alimenta ao próprio Jesus; quem dá água a quem tem sede, quem veste os nus, quem visita os presos, quem acolhe estrangeiros faz tudo isso ao próprio Jesus. Ali, dizendo, com sua vida e morte, que ódio se devolve não com armas, mas com compaixão.
Eu quero ouvir esse Jesus dos Evangelhos. Quero que os seus caminhos sejam os meus também.
E não. Não quero absolutamente nada com esse Gezuis dessa marcha aí.
Marcio Simão de Vasconcellos