O DEUS DA ESPERANÇA QUE SE FAZ PRESENTE NA SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO AO DOMINGO DA RESSURREIÇÃO

30/03/2024 14:17

O DEUS DA ESPERANÇA QUE SE FAZ PRESENTE NA SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO AO DOMINGO DA RESSURREIÇÃO

A sexta-feira da Paixão e o Domingo da ressurreição de Jesus mantém entre si uma relação que é mais do que apenas temporal. Em termos narrativos, obviamente o domingo é precedido pela sexta-feira, o que implica em reconhecer que a ressurreição é precedida pela morte. Porém, isso também nos leva a reconhecer que não é a morte a palavra final para a vida. Ao contrário: toda a fé cristã é orquestrada pelo diapasão da ressurreição de Jesus dentre os mortos. “Se Cristo não ressuscitou”, afirma Paulo, “vã é a nossa fé e somos os mais infelizes de todas as pessoas na Terra”.

 

Mas antes do Domingo que anuncia esta ressurreição, vivemos as nossas sextas-feiras da cruz.

 

Sim, cada um de nós vive hoje neste cenário permeado de dores, sofrimento e injustiça, ansiando pelo horizonte da ressurreição que garante a plenitude do reino de Deus. Vivemos nas sextas da Paixão, antecipando as manhãs de Domingo. Fato é que estes dois dias escondem muito mais do que podemos expressar em palavras. Pois quem será capaz de dar conta da dor e do desespero humanos? Quem ousa justificar a violência e o sofrimento como vontade divina? Diante do sofrimento do inocente, calemos todos! Pois a única voz que tem sentido nesse momento é a do Cristo crucificado.

 

Ouçamos, portanto, a voz de Jesus, pois, sua experiência de sexta-feira da Paixão paradoxalmente afirma a presença de Deus mesmo em meio ao suposto abandono divino, quando a única voz que resta na garganta é a pergunta “Deus meu, por que me desamparaste?”

 

Pois Deus se faz presente na vida humana.

Sim! Deus se faz PRESENTE na vida humana!

 

Nunca como o deus ex-machina das doutrinações religiosas, que destrói a liberdade humana em nome da autopreservação divina, mas antes como o Deus Emanuel, que está sempre entre nós. Sim, Deus está presente, mesmo quando, cansados, perdemos o ânimo para viver; mesmo quando temos sede e não nos sentimos saciados; mesmo quando sofremos com a esterilidade de muitas igrejas ao nosso redor que se recusam a amar como Cristo amou; mesmo quando nos perguntamos se ainda vale a pena continuar na caminhada.

 

Mas como se mostra essa presença, poderíamos perguntar? A verdade é que, no lugar de uma divindade ex-machina, que magicamente resolva nossas questões complexas, temos junto a nós um Deus poderosamente discreto. Ou, como afirma Riobaldo Tatarana, de Grande Sertão: veredas, um Deus “traiçoeiro”.

 

“Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro – dá gosto! A força dele, quando quer – moço! – me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre” (ROSA, G., 1980, p. 21)"

 

Deus também está presente em nossos domingos de ressurreição, quando nos reencontramos com nosso Mestre, vivo, que nos transmite sua paz. Deus se revela em meio às nossas lágrimas, nos chamando pelo nome, tal como fez com Maria de Magdala, agora destituída de seu apelido pejorativo (Madalena) e chamada apenas por seu nome: Maria! Deus está presente nos momentos em que, movidos pelo seu Espírito, somos chamados a testemunhar, até o martírio se for preciso, do seu amor de Pai. Deus está presente em nossa comunhão com nossos irmãos, quando compartilhamos a mesa do pão e do vinho em santa alegria.

 

E Deus está presente nesse hiato existente entre esses dias. Entre a sexta-feira da cruz (símbolo da maldade e injustiça humanas e da opressão de um Império que, em nome de sua PAX condenava à morte muita gente), e o domingo da ressurreição (do túmulo vazio, dos discípulos num misto de confusão e alegria por rever Jesus, vivo diante deles) nós nos encontramos com um Deus-Emanuel.

 

Por isso, teimo em crer na esperança da ressurreição. Insisto em continuar crendo que é possível mudar o mundo, mesmo à sombra da sexta-feira. Pois embora esta nos surpreenda de vez em quando, sabemos, pela fé, que o domingo da ressurreição está se aproximando.

 

Desejo uma abençoada Páscoa para você e sua família!

 

Em Petrópolis, 30 de março de 2024

Marcio Simão de Vasconcellos

Tópico: O DEUS DA ESPERANÇA QUE SE FAZ PRESENTE NA SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO AO DOMINGO DA RESSURREIÇÃO

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