RELEITURAS TRADITIVAS PATRIARCAIS NO EXÍLIO BABILÔNICO - primeira parte
INTRODUÇÃO
Este comentário tem por objetivo a hipótese da formação de textos veterotestamentários construídos a partir de uma situação de risco na babilônia. Qual? A perda de plausibilidade frente aos acontecimentos últimos na história de Israel, a saber, o cativeiro (587 a.C) que apresenta uma nova divindade, Marduc, o principal do panteão babilônio e que, entendido por seus seguidores, vence a IAHWEH na batalha. Aparentemente IAHWEH está derrotado e prestes a ser esquecido dentro de uma cultura totalmente inóspita para o povo judeu. Este termo "aparentemente derrotado" é que devem os teólogos judaítas concentrar-se e reavivar através de suas releituras suas tradições/cultura/culto a IAHWEH.
SITUAÇÃO/CONTEXTO
Desde o reinado de Josias e sua grande descoberta do Livro da Lei que, suspeita-se ser o Deuteronômio completo ou fragmentos (cf. 2º Rs. 22), se tentou limpar, varrer a idolatria de dentro de Israel. Para que isso acontecesse era necessário que o povo acolhesse a determinação do rei. Na verdade não podemos historicamente sustentar tal hipótese de aceitação de toda a comunidade, tal questionamento surge pelo fato de que a adoração particular das tribos se extingue com a proposta/ordem do rei, ou seja, a facilidade de se adorar em próprio território tribal desaparece com a reforma josiânica. Entretanto, os relatos veterotestamentários nos direcionam para um comum acordo entre as tribos/povo e a determinação de Josias (cf. 2º Rs. 23.1-3). Ou seja, os relatos nos mostram um aparente sucesso na implementação da reforma.
Jeremias (cf. Jr. 7, 8. 1-3) - profeta pós-josiânico e pré-exílico babilônio - nos apresenta quatro particularidades condenatórias às práticas executadas no templo pelo povo. Este profeta faz sua condenação às práticas cultuais na porta do templo! O templo, para o profeta, se tornara em edifício religioso imprestável, fruto de seus sincretismos - choque cultural - diante dos inúmeros deuses apresentados pelo panteão cananeu. A seguir, apresento um breve resumo destas quatro advertências/condenações, conforme capítulos indicados acima:
a) Chamado do profeta, denúncia da prática idolátrica na porta de entrada do templo de IAHWEH; Lembra que as práticas sociais direcionadas (estrangeiros, órfãos, viúvas etc.) são determinantes para a longevidade na terra prometida (aliança com os patriarcas), assim como o NÃO derramamento de sangue inocente e a NÃO prática idolátrica. Contudo, Israel age de forma contrária as determinações dadas por IAHWEH ao longo de sua história; Jeremias alerta que após tais práticas, condenatórias, o povo se apresenta perante IAHWEH para o perdão de seus pecados, todavia ao saírem do templo continuam com suas práticas contrárias às determinações traditivas. Jeremias relembra a tragédia acometida ao povo em virtude do mau cumprimento do ofício sacerdotal de Eli e seus filhos, ou seja, a corrupção tanto do povo como do sacerdócio em Silo faz com que haja grande derramamento de sangue por parte da derrota infligida pelos povos do mar - filisteus - que após a batalha levam a arca da aliança como troféu.
b) As famílias em Judá e Jerusalém têm por hábito a prática da refeição familiar, entretanto este preparo e consumo deste alimento/tortas são dedicados a ‘rainha dos céus' (Ishtar ou Astarte, deusa da fecundidade no panteão mesopotâmico); Toda a família, na denúncia profética de Jeremias participa do preparo do alimento, as funções estão pré-estabelecidas.
c) Israel se mostra infiel a IAHWEH desde a saída do Egito; Jeremias faz menção aos inúmeros profetas enviados incansavelmente por IAHWEH, mas que não foram ouvidos; com Jeremias não será de forma diversa, a tendência é que o alerta profético não seja ouvido.
d) O templo além de inoperante contém inúmeros deuses - abominações - trazidos pelo povo; Agrava-se a denúncia em virtude dos ‘lugares altos de Tofet (grelha)', lugares destinados a prática cultual direcionada a Moloc no vale de Bem-Enom, por ali faziam passar seus filhos em sacrifício. Nesta parte d, referente aos versos 7, 29, fazemos uma alegoria sobre este versículo para afirmar hipoteticamente que, provavelmente o dito "Entoa sobre os montes secos uma lamentação" é uma referência a iminente destruição de Jerusalém em 587 a.C pelos babilônios.
DESESPERO HUMANO
Dentro do cativeiro era preciso se arrepender de todas as práticas contrárias feitas desafiando a IAHWEH e voltadas em forma de adoração aos outros deuses. Israel precisa entender que desde Silo, conforme mencionado acima, há uma paga do pecado imposta por IAHWEH, não é um mero acaso, acidente histórico! Os constantes desvios postados ao longo de nossa especulação acima confirmam que IAHWEH não ‘passa a mão na cabeça' de seu povo. É desta forma que os teólogos exílicos observam a trajetória de seus ancestrais. A babilônia oprime, explora os judaítas, da mesma forma ou pior do que a praticada durante o cativeiro no Egito. Israel, em determinados aspectos, revive a opressão vivida pelos seus ancestrais e da mesma forma precisa urgentemente fazer uma releitura de suas tradições para trazer plausibilidade em função do ocorrido e, além disto, necessita encontrar meios para reavivar a esperança em IAHWEH. Urge a necessidade de discurso que eleve IAHWEH novamente ao seu lugar de líder único, soberano a frente de seu povo. IAHWEH está fadado a morrer! Dentro do contexto babilônio, como já nos referimos acima, Marduc está em destaque absoluto. Mas quem poderá elevar o discurso de Javé e dar esperança aos desesperados que estão sendo ‘consumidos' pela cultura estranha a Israel. Isto é assunto para a segunda parte de nossa exposição.
Por Lucio Avellar
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