Não teríamos chegado onde chegamos se não fossem os sonhos
Sonhei um dia em fazer uma faculdade de Teologia, quando no Rio de Janeiro só existia a PUC e era inviável financeiramente pra mim.
Depois surgiu o Bennett, mas próximo da minha realidade financeira, porém distante da minha realidade ideológica.
Desistir da formação Teológica em terceiro grau, para me dedicar a um curso de Teologia livre, Do ponto de vista prático, seriam 3 anos de estudos para me formar em nada, mas com a perspectiva de levar a frente o sonho de ser útil na fé que eu abracei.
Quando menos espero, surge a Teologia Unigranrio, e o sonho volta à pauta.
Agora falta pouco.
Passei bons e maus momentos. Enfrentei preconceitos idiotas, de quem deveria ter a mente aberta. Passei por dores, temores, carências. Quase desisti. Insisti. Sobrevivi. Cresci.
Fiz amigos que não esquecerei jamais, mesmo que a distância se torne realidade.
Fiz nascer irmão, não de sangue, nem de fé, mas irmão fecundado, gerado e nascido no coração.
O registro, não foi feito em cartório, mas foi feito na alma, lugar indelével.
Agora vejo que até vivi momentos de utopia, mas sei que o sonho começa a virar realidade, quando acreditamos que sonhar é fundamental.
E se não virar?
Tudo bem, a gente aprende alguma coisa com eles.
SONHOS
Sonhos
Sonho com um sol sobre o mar límpido, retoque delicado das nuvens no céu, montanhas intocáveis ao longe. Sonho com árvores carregadas de frutos, derramando sabores e cores a quem se aproxima.
Sonho com um cenário de devaneios, onde palavras são insuficientes. Mas elas sempre são insuficientes! Diga-me o que é um substantivo, qualquer um, se não uma frágil e pálida tentativa de descrever a beleza do Real? O que são palavras, se não fonemas pequeninos diante da Vida?
Sonho com um mundo novo, um mundo sem injustiças, sem dor ou sofrimento. Mas no qual ainda existem lágrimas pois elas limpam o rosto e embelezam a alma. Sonho com ideais já mortos ressuscitados pelo poder da esperança, com vida se oferecendo, abundante, para todos e todas.
Sonho com um mundo sem templos, sem religiosidade e sem sacrifícios; um mundo onde a única liturgia válida é o serviço ao próximo em amor. Sonho com um mundo repleto de Deus e de sua graça, cheio de música e silêncio complementando-se numa harmonia paradoxalmente distoante.
Sonho um mundo de sonhos. Sonho acordado, sim, e em meu sonho vejo a fome morrer de inanição, a sede ser afogada numa nascente de águas cristalinas e fortes, a pobreza ser anunciada como passado que não volta. Vejo o fim da intolerância, esse jeito de ser que usa Deus como disfarce da própria arrogância. Vejo discursos encarnando no chão da vida e lá fazendo germinar a esperança.
Sonho com crianças felizes, abertas ao futuro, não mais trocando sua infância por apresentações em faróis fechados nas ruas da cidade. Crianças que não buscam no lixo o pão de cada dia, que não dormem ao relento. Sonho com crianças que podem pensar no que farão quando crescerem, pois as possibilidades são, de fato, infinitas.
Sonho com idosos gentis. A vida não os endureceu, pois foi vida boa, vivida na companhia dos amigos e familiares, até o fim. Idosos que têm muito a ensinar e muitos ouvidos atentos a escutá-los; não ficaram solitários ou abandonados na jornada. Velhos e velhas num mundo onde termos como esse não são pejorativos, mas lembretes de sua sabedoria, de quem enxerga a vida com jovialidade e maturidade combinadas.
Sonho com homens e mulheres verdadeiros. Com gente íntegra, inteira; homens e mulheres que não são fantasmas, semi-humanos, mas nos quais a presença do Homem perfeito é tão intensa que todos e todas alcançaram a maturidade.
Sonhar assim é utopia? É postura de quem não abriu ainda seus olhos para a dura realidade da vida? É mentir para si mesmo? É ser inocente demais?
Sinceramente, não sei.
Espero que não.
Espero sorrir ao ver fragmentos desse sonho tornando-se realidade ao meu redor. Esperar isso não é viver longe do mundo. Pelo contrário, é viver para o mundo, amando-o como o Criador o amou, entregando-se em serviço pelas pessoas. Isso é viver com esperança.
E a esperança não é exatamente isso? Afirmar a utopia como possibilidade inescapável de uma vida que se entrega a Deus? Declarar que a vida é boa, é dom dos céus, e que o reino de Deus já chegou entre nós? Buscar o reino e a sua justiça? Implantá-lo entre as pessoas no poder do Amor?
Sonho, portanto, como quem já esteve caminhando em seus caminhos oníricos. Sonho na certeza da esperança, na fé no Amor, na paz de Deus. Um sonho, eu sei, partilhado com o Deus da Vida.
E assim, eu sonho.
Marcio Simão de Vasconcellos
09/03/2013
Tópico: SONHOS
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